sábado, 27 de novembro de 2010

A velha foto

As pessoas, e a trajetória que elas têm em nossas vidas são um mistério para mim. Por que conhecemos algumas tão brevemente? Por que outras são tão permanentes? De onde vêm às afinidades, as antipatias? Por que guardamos na memória tão vivamente pessoas com breves passagens em nossas vidas e esquecemos de muitos detalhes daquelas que nos são tão importantes?

Queria achar aquela foto, aquela que tirei ainda no colégio, no primeiro ano científico (existe isso ainda hoje?). Droga! Onde é mesmo que guardei aquela foto? Aquela em que estamos todos juntos sorrindo felizes... As meninas: Luci, Cristiane, Rosângela, nossa! Como era mesmo o nome da outra? Os meninos muitos, Guilherme, Djenal, Genilton, testinha ( Ah! Os apelidos, meu Deus como era o nome dele?). Eu não estou, sou eu quem tirou a foto, gosto tanto desta foto! Puxa como fui perder? Por que não perdi lembranças inteiras que sufocam o meu peito vez em quando? Tinha que perder justo esta foto? Quem mais esta nela? Laranjeiras, o professor, Ah!, quantas saudades... Saudades de suas aulas de matemática (eca! Detestava matemática!) frenéticas, monótonas, problemáticas, saudades de seu sorriso aberto, franco, jovial!

Queria estar lá, na foto, dizer: - Oi! Como vão? O que estão fazendo? Não posso, não consigo achar nem a droga da foto! Já sei, talvez esteja nesta velha caixa empoeirada aqui no alto do armário. Meu Deus! Existe tanto pó assim no mundo? Não encontrei. Quem mais estava na foto? Os Marcos: Aurélio e Vinícius, aquele menino CDF (fala isso ainda hoje? Acho que hoje é Nerd?), ele era bom em tudo, menos literatura, sempre fui eu quem tirou as melhores notas... Não vou encontrar, desisto. Vou fechar os olhos, quem sabe lembro de tudo? Do céu azul, da tarde morna, da brisa constante que fazia nossos cabelos esvoaçarem. Estou lá, ao lado do prédio da didática III no Colégio de Aplicação, não quero ir embora, vou continuar com os olhos fechados, quem sabe, para sempre.

- Mãe!!!

Droga!

_ O que é?


Adriana Magno
27/11/2010

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

NATUROLOGIA


Este espaço não foi originalmente pensado para o tipo de publicação que estou postando. Aqui deveriam constar apenas publicações,sobre a vida em seu cotidiano ordinário, mas atendendo a um pedido vou falar um pouco hj. sobre a Naturologia.

A Naturologia é hoje no Brasil um conhecimento, curso e profissão que trabalha com o bem-estar, qualidade de vida e promoção de saúde dos seres vivos em geral. Enquanto conhecimento a Naturologia foi definida no II Congresso Brasileiro de Naturologia ocorrido em 2009 como sendo: "um conhecimento transdisciplinar que atua em um campo igualmente transdisciplinar. Caracteriza-se por uma abordagem integral na área da saúde pela relação de interagência do ser humano consigo, com o próximo e com o meio ambiente, com o objetivo de promoção, manutenção e recuperação da saúde e da qualidade de vida.”
Como profissão a Naturologia está situada na área da saúde com foco na promoção e qualidade de vida, sendo o naturólogo um profissional do cuidado e não necessariamente da cura, dos seres vivos (homens, animais).A atuação do naturólogo se diferencia dos demais profissionais da área primeiro pelo uso exclusivo de técnicas naturais, tradicionais e modernas, ocidentais e orientais; segundo porque a atuação deste profissional está baseada na ação da interagência, ou seja, aquela que toma o indíviduo não como passivo no processo de cuidado , mas como ativo, co-responsável e co-produtor deste processo. O naturólogo atua como um educador em saúde, muito mais do que um curador de doenças.
No mundo a palavra Naturologia é usada em poucos países (mais nos de língua Portuguesa), o mais comum é encontrar o termo Naturopatia, também não existe uma unificação da atuação deste profissíonal (variando de país para país, conforme as legislações trabalhistas permitem), nem há uma unificação do conceito sobre o que seja o conhecimento Naturologia.
No Brasil o termo vai aparecer pela primeira vez com a Criação em 1994 do curso livre de Naturologia Aplicada, na faculdade espírita Bezerra de Menezes em curitiba, hj. um curso técnico de 2 anos.Em 1998 A UNISUL (Florianópolis) criou o curso de Naturologia Aplicada e em 2002 a UAM (São Paulo)fundou o curso de Naturologia, ambos com reconhecimento oficial e em funcionamento.
A profissão Naturologia ainda não foi reconhecida e nem regulamentada no país. As duas entidades existentes APANAT (Associação Paulista de Naturologia) e ABRANA(Associação Brasileira de Naturologia) estão em campanha para reconhecimento e regulamentação profissional.
É possível encontar este profissional nas mais diversas áreas: hospitalar,empresarial, educacional, terapêutica e de pesquisa. Se você se interessou e quer conhecer mais sobre a Naturologia e sobre estes profissionais, deixo alguns links interessantes:www.apnat.org.br; www.abrana.org.br; www.unisul.br; www,anhembi.br

sábado, 6 de novembro de 2010

Reflexões do Infante Henrique!




As crianças crescem, as filosofias permanecem...

- Mãe, não seria legal se você tivesse férias para o resto da vida com salário? (Adoro esta !!!)

- Querida tanto ter poderes jedais, porque não tenho? (frustração!)

- Mãe, sabe qual feitiço do Harry Potter eu sei fazer: “Expectrum patronum”!
- Meu filho para que serve este feitiço?
- Mãe, para salvar as pessoas dos dementadores !!! (óbvio)

- Mãe, se você tivesse muito dinheiro o que você faria agora?
- Sei lá meu filho, que pergunta difícil! Tanta coisa!
- Mãe, diga uma!
- Sei lá, acho que eu queria viajar!
- Pra onde?
- Pelo mundo todo.
- Mãe, vai, escolhe um lugar só!!! (cara de: mãe não sabe brincar!)

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O mundo vale a pena!!!


Esta semana passamos por mais um pleito eletivo em nosso país ( que bom!!! nasci em uma época em que expressar opinião era um problema!). Hoje acordamos, satisfeitos ou não, com a primeira mulher eleita presidente em nossa nação, grande feito, histórico! Pouco depois recebo um e-mail de uma jovem estudante e aspirante a naturóloga que fez um blog para discutir e refletir sobre sua profissão, diz ela "Como fazer política com Naturologia? Como fazer da Naturologia uma atuação política?". Então, me ocorreu que gostaria de escrever sobre os sonhos, as paixões e a capacidade de realizar e construir ideais.
Sei que pode parecer piégas e fora de moda falar de um espírito , o militante, que parece estar meio em desuso. A paixão militante é aquela que nos faz agir no mundo por conta dos valores em que acreditamos, nem sempre esta ação é racional, mas é sempre apaixonada e obstinada.
Permitam-me falar dela através da boca de um outro personagem: Pessoa, poeta que escreveu um dos poemas mais lindos que conheço sobre a possibilidade de sonhar e correr atrás dos sonhos, que é isto que faz o espírito militante, dizia o poeta:


Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.


MAR PORTUGUÊS
Fernando Pessoa

O mundo se move com sonhos e pelos sonhos, é sempre tempo de sonhar e acreditar!!!!

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Cotidiano

Cotidiano
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque

Todo dia ela faz tudo sempre igual:
Me sacode às seis horas da manhã,
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã.

Todo dia ela diz que é pr'eu me cuidar
E essas coisas que diz toda mulher.
Diz que está me esperando pr'o jantar
E me beija com a boca de café.

Todo dia eu só penso em poder parar;
Meio-dia eu só penso em dizer não,
Depois penso na vida pra levar
E me calo com a boca de feijão.

Seis da tarde, como era de se esperar,
Ela pega e me espera no portão
Diz que está muito louca pra beijar
E me beija com a boca de paixão.

Toda noite ela diz pr'eu não me afastar;
Meia-noite ela jura eterno amor
E me aperta pr'eu quase sufocar
E me morde com a boca de pavor.

Todo dia ela faz tudo sempre igual:
Me sacode às seis horas da manhã,
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã.

Todo dia ela diz que é pr'eu me cuidar
E essas coisas que diz toda mulher.
Diz que está me esperando pr'o jantar
E me beija com a boca de café.

Todo dia eu só penso em poder parar;
Meio-dia eu só penso em dizer não,
Depois penso na vida pra levar
E me calo com a boca de feijão.

Seis da tarde, como era de se esperar,
Ela pega e me espera no portão
Diz que está muito louca pra beijar
E me beija com a boca de paixão.

Toda noite ela diz pr'eu não me afastar;
Meia-noite ela jura eterno amor
E me aperta pr'eu quase sufocar
E me morde com a boca de pavor.

Todo dia ela faz tudo sempre igual:
Me sacode às seis horas da manhã,
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã.

Reflexões de um poeta...


Esta não é minha, mas gosto muito!

As pessoas quando vão embora:

A) Desacontecem?
B) Acontecem em outro lugar?
C) Desacontecem em um não-lugar?
D) Acontecem aqui?

As pessoas quando vão embora
acontecem no fundo do peito...
quando bate o efeito saudade.

Edmilson Felipe (Antes do Medo, Seleta: 2005)

domingo, 24 de outubro de 2010

VIDA DE PASSARINHO


Sou bicheira, tds. já sabem, comentei em postagens anteriores. Tenho por hábito observar passarinho, vida de passarinho. Em casa plantei árvores frutíferas para dar pouso e comida a esses bichinhos tinhosos, passarinho é bichinho que está aí, mas que quase ninguém vê. Você já observou os passarinhos ao seu redor? Não, quando começar vai se assustar com a quantidade e a diversidade deles, mesmo em cidade grande como São Paulo. Observar pássaros, esse hábito, adquiri depois do casamento com meu marido que virou passarinheiro. Como estamos na primavera (tempo bom pra ver passarinho pq. é época do início da procriação), resolvi compartilhar com vcs. as alegrias e mistérios destes amigos de penas.

1- Fique atento aos barulhos, passarinho é tudo, menos silencioso!
2- Fique atento as cores, nem todos são pardais, tem uns bem coloridos diferentes. (Se vc. mora no centro de São Paulo vá até o parque do Ibirapuera, lá é possível ver canários da terra e cardeal do nordeste).
3- Chame a atenção dos passarinhos, plantando e conservando as árvores frutífera, e colocando frutas para atraí-los. (Vc. pode colocar frutas em janelas de apartamento e se surpreender com sanhaços, suiriris, sabiás, etc. que vão aparecer. E os pombos que são pragas em São Paulo tb. vão? Difícilmente, eles preferem grãos, arroz, alpistes, pão. Se for atrair beija-flor sempre mantenha os bebedoros limpos, são aves muito sensíveis e o acúmulo de sujeira nos bebedouros pode matar ao invés de alimentar!)
4- Procure vida ao ar livre, praças, parques, reservas. Existem muitas aves nos parques e lougradouros públicos. Em São Paulo em quase todos os parques é possível observá-las.
5- Contemple. A contemplação é a única recomendação importante para observador de pássaro, é preciso olhar ao redor e contemplar a natureza para ver passarinho!!!!!

Bom, agora curta esses próximos meses, pois eles estarão mais barulhentos e agitados com as cortes, acasalamentos e nidificações!!!

PS: Olhem nos sinais (farol, semáforo) de trânsito, muitos pardais estão fazendo ninho nos canos de metais...

Se vc. quer saber mais sobre passarinho acesse: www.wikiaves.com.br

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

PETIT MONDE GOURMET


Esta é mais uma da minha irmã, a bisavó era a mesma...

Inaê Magno*

Almoçava com um velho amigo enquanto o ouvia listar as maravilhas da moderna gastronomia: crème brûlée, petit gateu, camarões chineses, carnes argentinas, cortes especiais, frisantes, espumantes, outros vinhos, cafés. Coisas de encher os olhos, a pança, a alma.
Há certa altura, pensando com meus murchos botões, arrisquei palpite: “Não sou chique! Não gosto de sushi, não bebo café, vinho também não”. Ele, de lá, disse que eu estava errada, que gosto é gosto e pronto. Não existe isso de gosto chique ou não:
- Mas se a pessoa gosta de arroz com feijão, também não precisa comentar, né? Concluiu seu raciocínio.
Hein? Por que, não? Qual o problema de gostar de arroz com feijão? Perguntei deveras convicta de minha inaptidão para o glamour.
- Não tem problema nenhum. Só que arroz com feijão é coisa comum, não é para dizer que gosta.
Comum para nós, porque é da nossa cultura. Um estrangeiro bem pode se deleitar com um feijãozinho com carne e arroz.
- Isso mesmo, é nossa cultura, não tem que falar que gosta.
Naquela hora, eu que muito me esforçava por flanar pelos sabores requintados que o homenzinho à minha frente descrevia, vi-me, de súbito, à mesa de minha bisavó. Meu bisavô à cabeceira, ela à sua esquerda, pouco depois tia Nena. O lustre de madeira trabalhada sobre nós, toalha limpa, pratos de porcelana branca e bordas cor de prata, talheres antigos, copos de vidro. A cestinha de pão e o meio limão ao lado de vovô. E um carinho de brisa fresca soprando das janelas abertas.
Vovó era italiana, de Pescia, Toscana. Jovem camponesa que desceu aos trópicos em busca de vida melhor. Trabalhou de roça, de operária. Partiu aos noventa, viúva de um pequeno industrial húngaro, oito anos mais velho. Mãe de duas filhas. Avó, bisavó.
Vovó era cozinheira. Não, minto. Vovó era COZINHEIRA. Sim. Maiúscula. Na cozinha e em tudo mais. Em sua casa, aquela que a abrigou até a morte e que em vida acolheu a todos, havia muitas dessas coisas de que falava meu amigo: vinhos, cafés, comidas. Mas era diferente. Vinho era domingo, companhia de macarronada com queijo ralado. O aroma onipresente da mesa posta não dava espaço a que se cheirasse o copo antes de bebê-lo. Café se tomava de manhã, depois do almoço e à tarde. Era coado na hora, deixava um rastro de coisa boa no ar. Não era amigo de água com gás e pau de canela. Sua parceria era com bolo de ovos, pão de mel, baralho, conversa fiada. E comida era isso mesmo: comida. Quer dizer: COMIDA. Farta, simples, boa.
Nos bons tempos de minha infância, bem aquecida pelas asas de vovó, nossa família era relativamente extensa. Havia tios e primos de graus variados. Gente nacional, gente estrangeira, gente nova, gente velha. Quando vovó anunciava comida – almoço, jantar, o que fosse – a casa enchia e ninguém lamentava não haver chef na cozinha. O povaréu ia porque era domingo, porque era Natal, porque era noite e chovia. Por causa do espaguete, do bolo de nozes, do caldo de carne com cabelinho de anjo. Ia para ver vovô. Ia para ver vovó. Ia porque ia. E deixou de ir quando eles morreram.
Vovó, italianíssima, não parecia ter vergonha de dizer que gostava de macarrão. E nós, brasileiríssimos comensais de sua obra prima, menos ainda. Também não nos envergonhávamos de gostar de ovo frito, peixe à milanesa, chuchu refogado na manteiga, frango ensopado com mandioquinha e cenoura.
Tenho saudades de minha bisavó. Muitas. Mulher fascinante. Boa e simples como arroz com feijão, bife com batata frita, macarrão com molho. Seu endereço, meu primeiro lar: Rua Dona Antônia de Queiroz, 165. O antigo sobrado ainda está lá. Hoje abriga qualquer coisa da Prefeitura. Está de pé, mas não vivo. Não brilha à luz da prata e dos cristais. Domingos, para ele, são apenas os dias mumificados que se espremem entre sábados e segundas. Não mais o cheiro do tomate fresco, o som das cortinas ao vento. As noites, quando há frio, são noites de frio. Não mais sopa quentinha, torradas, vontade de cobertor. Aos sábados não há ervilhas, carteado, café fresco. A velha casa está lá. Vovó não.
Vejo-me imersa em devaneios. Quem atenderá quando eu chamar o 256-3653? Onde estão os gerânios da sacada? Não vejo vovô ao sofá. Alguém dê quirela aos pobres pardais, pelo amor de Deus! As janelas da frente não podem estar fechadas, hoje é dia de sol! Não é vovó quem desce as escadas, batom vermelho, garbo absoluto. Tia, e sua porcelana? Não se pinta mais nesta casa? Quem cortou o jasmineiro do quintal? O pinheiro há muito que caiu, lembro. E vovô, ao longe, repete seu bordão: “Quanta coisa acontece quando o dia é comprido!”.
Não posso mudar o que passou. Fecho os olhos na infância e os reabro agora, adulta. De volta à mesa de meu amigo. Ele ainda fala de baristas, sommeliers e outros estetas do gosto. Moderna gastronomia, coisa chique. Não lhe quero estragar o entusiasmo, mas esse pessoal já estava por aqui quando vovó fazia polenta com carne moída. Eles agora são mais. As avós, menos.
Não temamos, o sonho não acabou. Quando esse petit monde gourmet invadir a cozinha dos lares e o coq au vin for nosso franguinho de domingo, ainda haverá o céu das avós, imenso e generoso refúgio onde mulheres maiúsculas como Dona Ernesta cozinharão seus quitutes para nós, eternos, saudosos e famintos netinhos.

Brasília, 10 de setembro de 2010.

* socióloga, bisneta da D. Ernesta e irmã da Adriana.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Coisas simples da vida....


Não sei quanto a vocês , mas eu sinto falta das coisas simples da vida, essas das quais precisamos de pouco ou nenhum dinheiro para tê-las, essas que basta termos disposição em apreciá-las e elas estão aí para serem apreciadas.
Gosto de ver o sol nascer de manhã cedo pelo retrovisor do meu carro indo para o trabalho, apreciar as árvores e a mudança de estação que elas prenunciam, adimirar um céu azul de brigadeiro, ouvir o barulho do mar e andar descalça molhando os pés no mar, gosto de tomar sol (lagartixar) depois de um longo período de frio e céu nublado, gosto do barulho da chuva fraca no telhado para embalar minhas noites de sono, adoro ficar chicletinho com meu filho vendo desenho, saber que meu cachorro vai "me sorrir latindo" quando eu chegar em casa, gosto de ver minhas orquídeas floresceram no final do inverno, gosto da sensação de malevolência depois de um dia de praia...
Gostaria de ter mais tempo para apreciar essas coisas, mas confesso as aprecio toda vez que tenho oportunidade, e você gosta de apreciar o quê?

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Síndrome do Fazedor de tese


Sempre acompanhei de perto, nesses anos de magistério e formação universitária o sofirmento e as penúrias de muitas pessoas em época "fazimento" dos trabalhos acadêmicos: TCC, dissertações, teses, etc. Eu mesma tendo passado pelas duas primeiras etapas e hoje terminando o doutorado me encontro novamente nesta situação.
As dores e dificuldades do período são tão generalizadas que podiamos criar, sem pensar em comprometimentos maiores com a generalização, um quadro característico das pessoas que passam por este martírio:O quadro da síndrome do fazedor de tese!

1- Sofrem todos irremediavelmente de um transtorno de bipolaridade: Ou 'só pensam naquilo' ou figem que não estão nem aí. A recorrência destes quadros se dá em períodos alternados.
2- São acometidos de surtos de comportamentos histéricos: muito riso, muito choro...
3- Desenvolvem tendência a compulsão: roer unhas, arrancar cabelos,picar papel, falar repetidamente a mesma coisa, etc
4- Sofrem de solidão e abandono familiar: afastamento voluntário do mundo social.
5- Desenvolvem a Síndrome do tempo perdido: todas tem a nítida e real impressão que não vão conseguir terminar dentro dos prazos estipulados!!!!

O engraçado é que a própria academia é a incentivadora deste quadro de síndrome do fazedor de tese. Parece haver no sofrimento um processo de glorificação para o conhecimento, sem sofrimento não há saber. Me pergunto se os sádicos do ofício acadêmico se deliciam com os milhares de aspirantes ao mundo acadêmico, como o capitão Nascimento e seus colegas oficiais do BOPE se deliciavam com as argúrias sofridas pelos aspirantes à tropa de elite?

Enfim, como sou uma sonhadora. Sonho com uma academia melhor, menos reprodutora dos modelos sociais de hierarquização,menos vertical e mais horizontal no processo de construção do saber!!!!

As alegrias de uma professora!!!!!!!


Esta semana que passou, nós professores fomos recheados de felicitações, comemorações, lembranças, etc. Mas nenhuma foi tão significativa, apesar de todas terem me tocado qt. Uma que não foi uma homenagem direta, mas a consequência do convívio sadio entre professor e aluno. Convívio este que penso que deve ser sempre mediado por uma relação de respeito mútuo, amor e troca!
Estava em sala, na aula de Legislação e ética profissional, falando da questão do Dever como elemento norteador das discussões éticas e, numa dessas digressões que fazemos por causa da intervenção de algum aluno, acabei falando de Darwin e da importância de seu pensamento para o desenvolvimento da cultura mundial (ocidental) a partir do século XIX, disse que diferente de Mendel e suas descobertas no campo da genética, Darwin tinha influenciado o mundo para além dos muros da ciência e chegado às artes, as discussões filosóficas, etc. Enquanto corria a discussão uma aluna, muito talentosa e sagaz fez este pequeno versinho sobre a questão:

"Eu vim de 'Ser villha'
de 'ser vilha' eu vim.
Não foi mais Darwin,
Foi Mendel por fim...

O gen da minha ética
a genética de mim...
Gênero de pais (en Enero de paz)
para filhos trago e levo em mim
para mais um ano, uma vida assim...

quem foi que disse então,
que este não
poderia declamar- porque inspira e escreve,
uma poesia,
tão simples assim! "

Com muito carinho,
com toda a Complexidade da Transdiciplinaridade, de uma brincadeira assim : )
Larissa

quinta-feira, 20 de maio de 2010

cronica de uma árvore arrancada.

Eu era uma árvore. Era porque morri, fui arrancada da minha existência pela crescente exploração imobiliária nestes anos de engorda da economia brasileira. Eu era um pé de Pata de Vaca, a verdadeira, a de flores brancas, não sei estimar quantos anos eu tinha, sou árvore não me preocupo com os anos, mas agora que morri gostaria de saber quanto tempo vivi!
Vivi numa rua pacata, a antiga Rua 12 na vila Zatt em Pirituba, São Paulo, morava na frente de uma casa de esquina perto de uma viela. As crianças jogavam bola em baixo da minha sombra. Seu José, o dono da casa, sempre deixava o carro na minha sombra. Os cachorros faziam xixi no meu tronco, mas eu não ligava, até gostava... Adubava-me. Os passarinhos, Ha Os passarinhos! Estes eu gostava quando viam se aninhar nos meus galhos ou cantar, muitas vezes era aquela algazarra danada que só passarinho sabe fazer, mas eu gostava muito, me alegrava. Os papagaios eram os meus favoritos. Eles viam pousar nos meus galhos e comer bichinhos e sementes, sem dúvida os mais barulhentos!Gosto de barulho de passarinho!
Um dia seu José vendeu a casa, foi morar em apartamento, mais seguro, menor. Ele já não precisava de uma casa tão grande. Os filhos tinham casado e mudado. D. Ana não queria mais limpar o quintal todos os dias.
Então a construtora comprou a casa, demoliu e construiu três no lugar de uma, achei interessante, o homem é muito inteligente, vejam vocês no lugar de uma, três! Quando as casas já estavam prontas (como ficaram prontas rápidas!) o problema: No lugar exato da garagem de duas das novas casas: Eu. Como Eu poderia ficar onde estava? Atrapalhando o lar de duas famílias? Assim, para o bem de todos, menos o meu, é claro, fui arrancada. Era um dia nublado, chuvoso o trator chegou de manhã bem sedo, empurrou meu tronco algumas vezes, tombei, depois com muita rapidez começou o vai e vem de serras, machados e pronto, no meu lugar um buraco no chão, depois cimento, piso e lá estavam duas garagens desimpedidas, prontas para serem usadas.
Vocês podem pensar: Nossa mas que árvore chorona, reclamona! Não conto esta história para reclamar, só para desabafar. Eu gostava de ser árvore e viver na Rua 12 lá em Pirituba, gostava de ouvir os passarinhos, ver as crianças jogando bola, abrigar o carro de seu José, observar o movimento da rua, sentir o vento balançando minhas folhas, sentir o frescor da chuva, os raios do sol...
Agora, só me resta contar essa minha história de árvore que um dia foi arrancada!


PS: desculpe o atraso, demorei mais de um ano para lhe prestes essa homenagem. Seja feliz no céu das árvores!

domingo, 25 de abril de 2010

A FAMÍLIA.

Este quem escreveu foi o Henrique em respostas a todas as minhas postagens!

ADRIANA É CHATA E LEGAL; Adriana É CHATA ÀS VEZES AS VEZES ELA É LEGAL, MAIS ELA AS VEZES É BOA. MEU PAI; ELE É LEGAL, ELE VENCE UMA PARTIDA DE EGE OF EMPIRES, ELE TAMBÉM TIRA FOTO DE PASSARINHOS. A MINHA MÃE: ELA TRABALHA MUITO E TAMBÉM ELA CUIDA DE MIM E DO MEU PAI. O HENRIQUE ELE GOSTA DE GUERRA E DE TANQUES E AVIÕES.

O GAROTO SUPERLATIVO!





O mundo é indescritivelmente pouco, insuficiente nele não cabe quase nada. Para Henrique o mundo teria que ser um lugar grande para acomodar os superlativos de sua existência.
Quando as coisas vão bem:
- Mãe, hoje foi o melhor dia da minha vida!
- Nunca me diverti tanto, sou o menino mais feliz do mundo!

Quando as coisas não ficam a contento:
-Mãe você estragou toda a minha vida!
- Nunca mais vou ser feliz, está tudo perdido!
- Eu sou O pior menino do mundo, não presto para nada!

Como o mundo é limitado geograficamente por alguns milhões de quilômetros quadrados, fico me perguntando se quando Henrique crescer ele vai caber no mundo?????

Indizível

Esta é outra crônica da minha irmã, os anos de infância foram compartilhados em Aracaju...

Inaê Elias Magno da Silva*



Não, as palavras não dizem tudo o quanto desejam. Para além de seu estreitíssimo canal transborda desmedido e inexprimível nosso oceano interior.

Lembrava-me do cine Palace, no calçadão da João Pessoa, e por um instante lamentei não haver vocábulos que pudessem dizer da pequena fada cintilante que borboleteou em mim, iluminando-me a face e o dia. Eu estava lá, onde já não há, de onde jamais saí. Tive o ímpeto de contar aos que ali não estiveram como são bons os domingos quando imersos no ar marinho da Rua da Frente; como é ser a criança que fomos naquelas tardes de fliperamas, paqueras, picolés, pracinhas.

Não é demasiado esperar que as palavras exprimam coisas que, encaixilhadas na mecânica de físicas e gramáticas, tatuam-se no ponto escuro onde somos tudo, exceto esquecimento?

São nossas aquelas tardes de chicletes, abraços e primaveras. Fadinhas nos borboleteiam porque ainda cantamos e dançamos nas poltronas do antigo cinema, esperando ansiosos o acender das luzes que nos sagrarão heróis de nós mesmos. Fomos gerados ali, entre o sol e o rio, naqueles domingos imortais, cheirando a fruta madura e horizonte.

**

A retidão das palavras desnuda de pernas lindíssimas apenas os tornozelos. Suas curvas, segredo íntimo, só vivendo para saber.

(Aos meus amigos queridos e aos domingos de nossa infância que nunca passarão.)


*A autora é paulistana e viveu em Aracaju dos 5 aos 21 anos. Atualmente mora em Brasília. É doutora em Sociologia e dedica-se ao estudo das cidades e sua relação com o imaginário, a memória e as emoções.

sábado, 24 de abril de 2010

CRôNICA DE UM AMOR VERDADEIRO

Sempre escrevo sobre meus animais quando eles morrem pelo menos os últimos... Sinhá (uma gata preta), July (uma boxer). Nunca escrevi sobre eles quando ainda estão vivos enchendo minha vida de alegria e sabedoria, sim para mim é possível aprender muito com nossos amigos de quatro patas, principalmente sobre tolerância e paciência.
Antes de apresentá-los a Ísis gostaria de fazer um parêntese explicativo. Sempre fui bicheira, desde que me entendo por gente estou cercada de bichos. Foram muitos gatos (Fofa, Sandoval, Fedora, etc.), cachorros, uma coelha, um sagüi, um periquito jandaia, 2 australianos e 3 canários do reino que vieram como dote do marido quando casei. Meu bisavô, o velho Antônio, tinha uma filosofia sobre o caráter das pessoas: quem não gosta de animais, crianças ou plantas tem algum problema. Nunca quis ser problemática, para além da normalidade problemática das pessoas, me tornei bicheira, criançeira e planteira. Hoje em casa tenho os 3, por precaução.
Ìsis nasceu mais ou menos 3 ou 4 dias depois que Sinhá morreu, ela foi atropelada em frente de casa, era Abril de 2001. Fiquei tão infeliz com a morte repentina de Sinhá que pela primeira vez na vida não queria ter bichos, achava que estava no meu limite para perdas. Duas semanas depois deste acontecimento uma amiga ligou oferecendo um filhote de gato, ela estava consternada com a minha dor. Titubeie, mas fui ao encontro de minha nova “filhinha”.
Ísis tem hoje 9 anos e nós temos uma relação de amor e adoração muito intensos ela é meu “chicletinho” e minha filha menina, já que tenho um filho menino que nasceu 1 ano e meio depois de sua chegada. A relação dos dois é a típica relação de irmãos: entre tapas e beijos, disputas e ciúmes, principalmente do meu colo.
Não sei como vou reagir quando Ísis for para o céu dos gatinhos, não gosto de pensar na morte, apesar da sua inevitabilidade. Antes que aconteça, e eu preste mais uma homenagem póstuma, quero fazer o que acredito ser o correto: declarar meu amor aos outros, pessoas, bichos quando ainda estão vivos!

Março/2010.