Esta é outra crônica da minha irmã, os anos de infância foram compartilhados em Aracaju...
Inaê Elias Magno da Silva*
Não, as palavras não dizem tudo o quanto desejam. Para além de seu estreitíssimo canal transborda desmedido e inexprimível nosso oceano interior.
Lembrava-me do cine Palace, no calçadão da João Pessoa, e por um instante lamentei não haver vocábulos que pudessem dizer da pequena fada cintilante que borboleteou em mim, iluminando-me a face e o dia. Eu estava lá, onde já não há, de onde jamais saí. Tive o ímpeto de contar aos que ali não estiveram como são bons os domingos quando imersos no ar marinho da Rua da Frente; como é ser a criança que fomos naquelas tardes de fliperamas, paqueras, picolés, pracinhas.
Não é demasiado esperar que as palavras exprimam coisas que, encaixilhadas na mecânica de físicas e gramáticas, tatuam-se no ponto escuro onde somos tudo, exceto esquecimento?
São nossas aquelas tardes de chicletes, abraços e primaveras. Fadinhas nos borboleteiam porque ainda cantamos e dançamos nas poltronas do antigo cinema, esperando ansiosos o acender das luzes que nos sagrarão heróis de nós mesmos. Fomos gerados ali, entre o sol e o rio, naqueles domingos imortais, cheirando a fruta madura e horizonte.
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A retidão das palavras desnuda de pernas lindíssimas apenas os tornozelos. Suas curvas, segredo íntimo, só vivendo para saber.
(Aos meus amigos queridos e aos domingos de nossa infância que nunca passarão.)
*A autora é paulistana e viveu em Aracaju dos 5 aos 21 anos. Atualmente mora em Brasília. É doutora em Sociologia e dedica-se ao estudo das cidades e sua relação com o imaginário, a memória e as emoções.
Adorei! Me fez lembrar de nossas idas e vindas da Atalaia Nova, qdo ainda gravida de Dayane(hoje c/18 anos e na UFS- terceiro lugar geral em Física Licenciatura) tal mãe, tal filha; pescavamos ás três da madrugada.
ResponderExcluirAmiga, vc. tem um blog e eu não sabia!
ResponderExcluirSó vi seu comentário hj. Sei usar quase nada este trco!!
Dadaí faz física! meu Deus!!!!!
bjs.