segunda-feira, 30 de julho de 2007

SOLIDÃO




Certo dia caminhando sem destino, nem direção, num certo parque sentei-me à sombra em um banco qualquer e comecei a observar a paisagem. Primeiro vagarosa e detalhadamente, eu observei as plantas, suas cores, sua disposição, o perfume, o conjunto de árvores, folhas e flores; depois a paisagem foi perdendo o contorno, se tornando amorfa e já não mais enxergava os detalhes, mas um borrão sem sentido, nem tamanho...
O pensamento começou a vagar e eu me vi isolada do mundo numa perfeita simbiose comigo mesma, tendo apenas a sensação de uma leve brisa soprando em meu corpo. Era como se corpo e alma por um instante pudessem se separar e prosseguir caminhos diferentes e mais, pudessem ter sensações diferentes.
Assim, desconectada do tempo e solta no espaço a minha mente começou a vagar e a divagar em devaneios soltos sem muito sentido, até que a brisa leve se tornou um vento mais forte e eu tive uma nítida impressão de voar... Então comecei a pensar numa certa música que fala do vento, da liberdade e da morte... “Vento, ventania, me leve pra qualquer lugar (...) deixe-me cavalgar nos seus desatinos, revoadas, redemoinhos (...) vento, ventania me leve sem destino (...) vento, ventania agora que estou solto na vida me leve pra qualquer lugar, me leve, mas não me faça voltar (...)”.
E este pensamento sobre o tênue fio da vida me fez acordar, retomar meus sentidos, e novamente a paisagem se fez presente e eu voltei a sentir o perfume das flores, o caminhar das pessoas, o balbuciar das crianças brincando no parque...
Levantei como alguém que levanta rapidamente da cama quando acaba de perder a hora. Sem sentir o meu corpo comecei a andar num gesto mecânico tomado apenas por um impulso da mente, sem a precisa dimensão dos sentidos do corpo. Comecei a percorrer os labirintos e as sinuosas ladeiras do parque numa reação involuntária do meu cérebro sem muita direção.
Caminhei muito até suar, derrepente parei olhei ao meu redor e não conseguia reconhecer o lugar. Por segundos me senti perdida a vista rapidamente procurou por algum ponto de referência e a buzina de um automóvel me deu a exata noção de onde estava...
Avenida Paulista, parque Trianon, faixa de pedestre enfrente ao Masp. Parei olhei e respirei fundo, e então pensei: Há! Como é estranhamente linda esta vida solitária da metrópole.

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