segunda-feira, 30 de julho de 2007

Intuição




Levantou-se mais cedo aquela manhã, não sabia porque, mas pressentia que algo diferente iria acontecer. Sem acordar o marido foi ao banheiro fazer a toalete. Era Sábado e a família costumava acordar mais tarde, o que deixava o banheiro livre por mais tempo.
Distante da pressa rotineira, Carmo teve tempo para desfrutar da solidão do banheiro. Diante do espelho parou por alguns minutos e ficou observando sua imagem refletida, deixou-se perder nas rugas e traços já marcados de seu rosto e numa espécie de transe começou a analisar aquela figura que se apresentava perante seus olhos.
Que Carmo era aquela? Eram seus traços sua fisionomia, mas não era ela aquela figura do espelho, era uma mulher quarentona, envelhecida, amargurada, diferente da pessoa que olhava o reflexo no espelho. Esta era uma menina, uma adolescente que se apaixonou pelo filho do dono da farmácia, que ganhou o concurso de miss na escola, que teve um casamento de princesa com limosine e flor de laranjeira...
O barulho do filho batendo à porta trouxe-a de volta. Ficou assustada com seus pensamentos, afinal ela ainda era uma mulher bonita e feliz, a única da rua que não precisava trabalhar fora, o que lhe garantia um “status” de rica no bairro.
O Sábado correu normal com barulho de TV, briga de criança e cerveja do marido espalhada pela casa. O almoço saiu na hora prevista, como de costume almoçaram arroz, feijão, carne de panela e maionese. Porém aquela sensação ainda persistia estava convencida de que algo estava para acontecer. Lavando a louça ocorreu-lhe que a sensação fosse a notícia da morte de algum parente, que estava por chegar. Fazia um bom tempo que não tinha notícias dos parentes do interior e sua tia Mafalda andava com problemas cardíacos.
De tarde, quando fazia as unhas, ficou imaginando que talvez estivesse pressentindo algum acontecimento ruim. Mas o que seria? Será que seu marido estava tendo um caso? Ele andava previsível demais; saía as 7:30 da manhã, chegava às 8:00 da noite, ia dormir às 10:00, tudo certinho, certinho demais, talvez porque estivesse tendo um caso, mas com quem?
A noite assistindo a novela pensou em acidente, será que no passeio do dia seguinte, quando iriam à praia haveria um acidente? E se todos morressem? E se só morresse ela? Quem cuidaria de seus filhos? De sua casa? Será que seu marido se casaria com outra? Será que transaria com outra em sua cama? Aquilo seria muito desastroso. Temendo maiores consequências de seus pensamentos procurou desviar a atenção para a novela, que corria despercebia à sua frente.
Quando foi dormir, depois de transar com o marido, ficou pensando o que poderia ser aquele pressentimento. Seria um aviso? Uma cisma? Ela tinha boa intuição sabia que não era uma sensação infundada, era realmente um pressentimento, o seu sexto sentido estava querendo lhe dizer alguma coisa, mas ela não estava sendo capaz de descobrir, mas Por quê? Por que teria aqueles pressentimentos se não fosse um aviso? Afinal, ela tinha uma vida boa, não lhe faltava nada; tinha marido, filhos, uma casa na praia, tinha até secadora de roupas, o que ela poderia querer mais?
Cansada de tanto pensar e não achar uma resposta, virou-se e foi dormir pensando que no sonho ela poderia achar as respostas para suas dúvidas.
Acordou assustada no meio da noite. Respiração ofegante e aquela angústia sufocante no peito. Parou, procurou recompor-se com uma longa e pausada respiração; de repente pensou: Como não havia percebido! Tudo aquilo tinha uma solução! Ela estava precisando de uma boa mudança, algo novo que ajudasse a quebrar a rotina do dia-a-dia. Suspirou profunda e calmamente, pegou papel e caneta e anotou: “Segunda marcar tintura no cabeleireiro”.

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