Neste espaço estão fragmentos, pensamentos, reflexões, crônicas que surgem no e sobre o cotidiano da vida.
terça-feira, 11 de setembro de 2007
Florbela Espanca
A Vida
É vão o amor, o ódio, ou o desdém;
Inútil o desejo e o sentimento...
Lançar um grande amor aos pés d'alguém
O mesmo é que lançar flores ao vento!
Todos somos no mundo "Pedro Sem",
Uma alegria é feita dum tormento,
Um riso é sempre o eco de um lamento,
Sabe-se lá um beijo d'onde vem!
A mais nobre ilusão morre... desfaz-se...
Uma saudade morta em nós renasce
Que no mesmo momento já é perdida...
Amar-te a vida inteira eu não podia.
A gente esquece sempre o bem de um dia.
Que queres, meu amor, se é isto a Vida!...
quarta-feira, 29 de agosto de 2007
cora coralina
sexta-feira, 10 de agosto de 2007
Vida de mudança!
Não ter espaço, ocupar espaços, redimensionar espaços.
Aumentar, encolher, crescer dimensões, limitar opções!
Apreciar o frio, odiar a chuva, reclamar do tempo.
Dormir no chão, tomar banho na bacia, escovar o dente no tanque...
Acompanhar a construção que é lenta, sofrida, complicada, mas que acaba na realização de um sonho.
sexta-feira, 3 de agosto de 2007
O super Henrique
Henrique não gostou muito da postagem " o pequeno Henrique e a morte", lhe pareceu pouco gloriosa e nada enaltcedoura de seu humilde coração leonino. Assim em sua homenagem...
Os super poderes:
-super laser
-super biquinho lindo
-super martelo do Henrique
-super abraço e beijo na mãe e no pai
- ultra raio
- ultra carinha de moleque!
Pontos fracos:
- ficar longe da mamãe
- ficar sozinho
-não ser o centro exclusivo das atenções
- medo de fantasma!
Grandes feito:
-fazer mamãe e papai felizes
- salvou a Milene
-deixou a casa mais alegre
-salvou São Paulo
-matou os zumbis (ele é um grande matador de zumbis!
terça-feira, 31 de julho de 2007
“O meu amor é passarinheiro”
A vida nos ensina a amar de muitas formas, eu tenho um amor passarinheiro.
Que se esconde no mato longe do barulho da cidade, que é silencioso, paciente, persistente.
Amar vida de passarinho é saber enxergar o que ninguém mais vê, desconfiar de barulho, estar atento a tudo. É desenvolver instinto para estar em sintonia com a natureza, valorizar os detalhes: cores, sons, cheiros.
Passarinho é bichinho tinhoso às vezes tímido, ás vezes esperto demais para se deixar mostrar. Então temos que nos aproximar devagarzinho, bem de mansinho para ele não assustar.
O amor é igual a passarinho precisa de carinho, atenção, sutilezas, se não, ele morre ou voa para bem longe pra nunca mais voltar!
Sp, 31.07.07
Amar vida de passarinho é saber enxergar o que ninguém mais vê, desconfiar de barulho, estar atento a tudo. É desenvolver instinto para estar em sintonia com a natureza, valorizar os detalhes: cores, sons, cheiros.
Passarinho é bichinho tinhoso às vezes tímido, ás vezes esperto demais para se deixar mostrar. Então temos que nos aproximar devagarzinho, bem de mansinho para ele não assustar.
O amor é igual a passarinho precisa de carinho, atenção, sutilezas, se não, ele morre ou voa para bem longe pra nunca mais voltar!
Sp, 31.07.07
segunda-feira, 30 de julho de 2007
SOLIDÃO
Certo dia caminhando sem destino, nem direção, num certo parque sentei-me à sombra em um banco qualquer e comecei a observar a paisagem. Primeiro vagarosa e detalhadamente, eu observei as plantas, suas cores, sua disposição, o perfume, o conjunto de árvores, folhas e flores; depois a paisagem foi perdendo o contorno, se tornando amorfa e já não mais enxergava os detalhes, mas um borrão sem sentido, nem tamanho...
O pensamento começou a vagar e eu me vi isolada do mundo numa perfeita simbiose comigo mesma, tendo apenas a sensação de uma leve brisa soprando em meu corpo. Era como se corpo e alma por um instante pudessem se separar e prosseguir caminhos diferentes e mais, pudessem ter sensações diferentes.
Assim, desconectada do tempo e solta no espaço a minha mente começou a vagar e a divagar em devaneios soltos sem muito sentido, até que a brisa leve se tornou um vento mais forte e eu tive uma nítida impressão de voar... Então comecei a pensar numa certa música que fala do vento, da liberdade e da morte... “Vento, ventania, me leve pra qualquer lugar (...) deixe-me cavalgar nos seus desatinos, revoadas, redemoinhos (...) vento, ventania me leve sem destino (...) vento, ventania agora que estou solto na vida me leve pra qualquer lugar, me leve, mas não me faça voltar (...)”.
E este pensamento sobre o tênue fio da vida me fez acordar, retomar meus sentidos, e novamente a paisagem se fez presente e eu voltei a sentir o perfume das flores, o caminhar das pessoas, o balbuciar das crianças brincando no parque...
Levantei como alguém que levanta rapidamente da cama quando acaba de perder a hora. Sem sentir o meu corpo comecei a andar num gesto mecânico tomado apenas por um impulso da mente, sem a precisa dimensão dos sentidos do corpo. Comecei a percorrer os labirintos e as sinuosas ladeiras do parque numa reação involuntária do meu cérebro sem muita direção.
Caminhei muito até suar, derrepente parei olhei ao meu redor e não conseguia reconhecer o lugar. Por segundos me senti perdida a vista rapidamente procurou por algum ponto de referência e a buzina de um automóvel me deu a exata noção de onde estava...
Avenida Paulista, parque Trianon, faixa de pedestre enfrente ao Masp. Parei olhei e respirei fundo, e então pensei: Há! Como é estranhamente linda esta vida solitária da metrópole.
radio CBJ
Esta é uma história que ouvi no rádio, uma manhã dessas indo pro trabalho...
- Bom dia ouvinte da rádio CBJ! Sintonizando em 1000mh – AM sua rádio CBJ, aquela que nunca deixa você com cara de idiota!
- Começando mais um programa Reginaldo Costa, o amigo de todas as horas...
- Bem, caros ouvintes estejam sintonizados nesta manhã de Segunda-feira na nossa CBJ, para passar o dia bem informados e com muita música no coração. Dando início a nossa programação vamos falar com o ouvinte:
- Alôooooo! Quem está na linha?
- Alô é a Gisele.
- Gisele de onde?
- Da vila Jaraguá.
- Perus?
- È
- Gisele? A quanto tempo a nossa querida Gisele não liga aqui pra rádio! Tudo bem Gisele?
- Tudo bem Reginaldo.
- Escuta Gisele, por que você não tem ligado mais?
- Sabe que é, é que agora o telefone daí tá difícil, vive ocupado.
- Ah! Você tem andado ocupada. Tudo bem, mas não tem deixado de ouvir a gente não, não é? Você está trabalhando muito?
- Estou sim.
- E onde você trabalha?
- No , Mc Dolnad.
- Ah! No MC DONALD! Um abraço pra rapaziada do MC DONALD!
- Escuta Gisele e que música você quer ouvir?
- Alô, do xitãozinho e xororó.
- E quer oferecer pra quem?
- Ah! Pra min e pra minha irmão gêmea Gislene que está fazendo aniversário hoje!
- Aniversário! Que legal! E quantos aninhos vocês estão fazendo?
- 22.
- Sua irmã também, não é? Ela é gêmea, gêmea, igualzinha?
- È, nascemos no mesmo dia da mesma barriga, é igualzinha, só que ela é morena e eu branca.
- Ah! Que legal! Escuta só por causa disso você vai ganhar um super prêmio especial da sua rádio CBJ, Ok?
- Ok!
- Então responde rapidinho, mão esquerda ou direita?
- Esquerda.
- Legal! Você acabou de ganhar o super Kit especial da rádio CBJ, aquela que não deixa você com cara de idiota, e tem mais, um super chaveiro exclusivo da CBJ, para você guardar a chave do coração do seu amor! Tá legal?
- Tá.
- Então...
- Olha Reginaldo eu queria mandar um beijão pra minha irmã Gislene e pros meus filhos.
- Ah! Você tem filhos?
- Tenho.
- Legal, então...
- O João Paulo e o Uilamês
- Quem Willians?
- Não o Uilamês.
- Ah! E que idade têm eles?
- 4 e 2.
- Então beijo pra garotada, agora...
- Só que...
- Com vocês Xitãozinho e Xororó: ALÔ!!!
*
- Ele desligou Gislene.
- Deve Ter caído a linha.
- Mas, não deu pra mandar um beijo pra mãe!
- Deixa que eu ligo desta vez e tento.
- Tá bem!
*
- Agora na sua rádio CBJ mais um ouvinte na linha, Alôooo! Quem fala?
- Alô, é a Gislene.
- Gislene. Gislene de onde?
- Vila jaraguá.
- Perus?
- È........
- Bom dia ouvinte da rádio CBJ! Sintonizando em 1000mh – AM sua rádio CBJ, aquela que nunca deixa você com cara de idiota!
- Começando mais um programa Reginaldo Costa, o amigo de todas as horas...
- Bem, caros ouvintes estejam sintonizados nesta manhã de Segunda-feira na nossa CBJ, para passar o dia bem informados e com muita música no coração. Dando início a nossa programação vamos falar com o ouvinte:
- Alôooooo! Quem está na linha?
- Alô é a Gisele.
- Gisele de onde?
- Da vila Jaraguá.
- Perus?
- È
- Gisele? A quanto tempo a nossa querida Gisele não liga aqui pra rádio! Tudo bem Gisele?
- Tudo bem Reginaldo.
- Escuta Gisele, por que você não tem ligado mais?
- Sabe que é, é que agora o telefone daí tá difícil, vive ocupado.
- Ah! Você tem andado ocupada. Tudo bem, mas não tem deixado de ouvir a gente não, não é? Você está trabalhando muito?
- Estou sim.
- E onde você trabalha?
- No , Mc Dolnad.
- Ah! No MC DONALD! Um abraço pra rapaziada do MC DONALD!
- Escuta Gisele e que música você quer ouvir?
- Alô, do xitãozinho e xororó.
- E quer oferecer pra quem?
- Ah! Pra min e pra minha irmão gêmea Gislene que está fazendo aniversário hoje!
- Aniversário! Que legal! E quantos aninhos vocês estão fazendo?
- 22.
- Sua irmã também, não é? Ela é gêmea, gêmea, igualzinha?
- È, nascemos no mesmo dia da mesma barriga, é igualzinha, só que ela é morena e eu branca.
- Ah! Que legal! Escuta só por causa disso você vai ganhar um super prêmio especial da sua rádio CBJ, Ok?
- Ok!
- Então responde rapidinho, mão esquerda ou direita?
- Esquerda.
- Legal! Você acabou de ganhar o super Kit especial da rádio CBJ, aquela que não deixa você com cara de idiota, e tem mais, um super chaveiro exclusivo da CBJ, para você guardar a chave do coração do seu amor! Tá legal?
- Tá.
- Então...
- Olha Reginaldo eu queria mandar um beijão pra minha irmã Gislene e pros meus filhos.
- Ah! Você tem filhos?
- Tenho.
- Legal, então...
- O João Paulo e o Uilamês
- Quem Willians?
- Não o Uilamês.
- Ah! E que idade têm eles?
- 4 e 2.
- Então beijo pra garotada, agora...
- Só que...
- Com vocês Xitãozinho e Xororó: ALÔ!!!
*
- Ele desligou Gislene.
- Deve Ter caído a linha.
- Mas, não deu pra mandar um beijo pra mãe!
- Deixa que eu ligo desta vez e tento.
- Tá bem!
*
- Agora na sua rádio CBJ mais um ouvinte na linha, Alôooo! Quem fala?
- Alô, é a Gislene.
- Gislene. Gislene de onde?
- Vila jaraguá.
- Perus?
- È........
DIA DE CASAMENTO
Era cedo, não sabia se iria sair ou não. Escutou pela terceira vez o galo do vizinho e pensou: - pena que os galos não conheçam feriados, dias santos e domingos. Deu sua última espreguiçada e levantou. Afinal hoje era um dia importante. O dia de seu casamento.
-Anda verinha, quer se atrasar até pra chegar no salão, hoje é Sábado, vai tá tudo lotado.
- Mãe, eu tenho reserva.
- Grande coisa! Se você se atrasar passam outra noiva no seu lugar.
- Como outra? Eu sou a única de hoje!
- Quem disse? Minha filha pobre casa sempre aos sábados, ontem já tinham marcado mais uma.
- Há, já estou indo.
Olhou pro relógio 8 horas, era muito cedo só deveria chegar no salão às 10, mas como sua mãe era muito exagerada, tinha que se apressar. Por uns segundos ficou pensando no Valdemar, o que será que ele estaria fazendo agora?...
-Valdemaaaar! Levanta menino quer se atrasar até no dia do casório?
- Mãe, já levantei.
- Então anda logo porque você vai ter que ajudar seu pai a abrir a lanchonete.
- Mas mãe, hoje? No dia do meu casamento?
- Por quê? Você vai casar e vai morrer, ficar entrevado?
- Não.
- Então não enche, menino preguiçoso, tá pensando que a vida é fácil? Ela não é fácil não; anda deixa de moleza e vai logo.
Valdemar pensou em Vera, será que o dia dela tinha começado melhor que o dele? Pelo menos D. Alice não era assim, era uma senhora fina, trabalhava no hospital, enfermeira chefe, tinha estudado, já sua mãe, coitada, sabia ler e escrever, mas era muito, assim...exagerada.
*
Enquanto isso no salão...
- Oi verinha! E aí nervosa?
- Não Hélia, tranquila, mamãe é que tá nos cascos.
- Oi Hélia, essa juventude é muito descansada, você acha que dá pra fazer tudo, até o relaxamento?
- Claro! Pode deixar.
No salão o assunto era o do dia casamentos. Duas noivas de uma só vez! era coisa de se admirar, só não irão casar na mesma igreja. Uma era crente, a outra católica.
- E aí verinha? Como vai estar a igreja?
- Há linda, tudo saiu perfeito, muitas flores, tapete vermelho, órgão ao vivo, e é claro, a carruagem.
- Escuta, é seu Domingos que vai tocar o órgão?
- Não é uma moça do centro, conhecida da mamãe, vai até Ter coro ao vivo.
- Nossa... poderosa vai abalar! como diz o bicha da novela.
- E a carruagem, aonde conseguiu?
- Há! Meu tio trouxe da chácara.
- Então é uma charrete?
- É, mas vai tá enfeitada como carruagem.
- E, seu casamento vai parecer casamento de novela! E o noivo é galã?
- Há minha filha, é galão de vila, só se for, minha filha tem tudo menos gosto pra marido, o coitado parece aquele artista que fazia o visconde no sítio, lembra?
- Mãe! É mentira, ele só é um pouco magro, melhor assim do que gordo!
- Além do mais, não tem onde cair morto, trabalha com o pai num carrinho de lanche, vê se pode? É, mais não lembrou disso antes, agora aguenta!
- E o neném quando nasce?
- Em Julho, daqui a seis meses.
- E já sabe o sexo?
- Ainda não , mas eu quero menino, mas se vier menina tudo bem...
- E os nomes?
- Ah! Se menino ou Danilo Henrique ou Robson Augusto, se for menina ou Giovana ou Daniela Carla.
- Não brinca! Nome da minha sobrinha, Daniela Carla.
- Ah! Que legal....
*
De noite na igreja...
- Carmem Lúcia! Psiu... Carmem.
- Oi D. Alice, tudo bem?
- É, como este casamento vai se levando, você vê Carmem, a família dele, ele até que é um rapaz simpático, mas a família, ainda não chegaram todos, você já viu família do noivo atrasar? É uma tristeza.. ser pobre não é defeito, mas ser relaxado e ignorante, isso sim, é grave! Ontem mesmo eu falei pro Tião como nós havíamos deixado ela se casar assim, tão nova ainda na faculdade, primeiro ano de curso... um filho, não sei como vai ser. Não gosto nem de lembrar... e ele? Ainda no 3º ano do colégio, sem emprego, sim porque ajudar o pai num carrinho de lanche, não é o que se pode chamar de emprego...
- D. Alice preciso entrar...
- Ah! Sim... acho que finalmente vai começar...
No altar quando olhou sua filha entrando na igreja, com aquele vestido branco, o tapete vermelho, as flores enfeitando a igreja, a música, pensou segurando as lágrimas que lhe insistiam em correr a face: - Ah! Valeu apenas tanto sacrifício, as dívidas, os aborrecimentos, o nervoso e o desgosto da escolha, ela é a noiva mais linda que já vi na vida...
Intuição
Levantou-se mais cedo aquela manhã, não sabia porque, mas pressentia que algo diferente iria acontecer. Sem acordar o marido foi ao banheiro fazer a toalete. Era Sábado e a família costumava acordar mais tarde, o que deixava o banheiro livre por mais tempo.
Distante da pressa rotineira, Carmo teve tempo para desfrutar da solidão do banheiro. Diante do espelho parou por alguns minutos e ficou observando sua imagem refletida, deixou-se perder nas rugas e traços já marcados de seu rosto e numa espécie de transe começou a analisar aquela figura que se apresentava perante seus olhos.
Que Carmo era aquela? Eram seus traços sua fisionomia, mas não era ela aquela figura do espelho, era uma mulher quarentona, envelhecida, amargurada, diferente da pessoa que olhava o reflexo no espelho. Esta era uma menina, uma adolescente que se apaixonou pelo filho do dono da farmácia, que ganhou o concurso de miss na escola, que teve um casamento de princesa com limosine e flor de laranjeira...
O barulho do filho batendo à porta trouxe-a de volta. Ficou assustada com seus pensamentos, afinal ela ainda era uma mulher bonita e feliz, a única da rua que não precisava trabalhar fora, o que lhe garantia um “status” de rica no bairro.
O Sábado correu normal com barulho de TV, briga de criança e cerveja do marido espalhada pela casa. O almoço saiu na hora prevista, como de costume almoçaram arroz, feijão, carne de panela e maionese. Porém aquela sensação ainda persistia estava convencida de que algo estava para acontecer. Lavando a louça ocorreu-lhe que a sensação fosse a notícia da morte de algum parente, que estava por chegar. Fazia um bom tempo que não tinha notícias dos parentes do interior e sua tia Mafalda andava com problemas cardíacos.
De tarde, quando fazia as unhas, ficou imaginando que talvez estivesse pressentindo algum acontecimento ruim. Mas o que seria? Será que seu marido estava tendo um caso? Ele andava previsível demais; saía as 7:30 da manhã, chegava às 8:00 da noite, ia dormir às 10:00, tudo certinho, certinho demais, talvez porque estivesse tendo um caso, mas com quem?
A noite assistindo a novela pensou em acidente, será que no passeio do dia seguinte, quando iriam à praia haveria um acidente? E se todos morressem? E se só morresse ela? Quem cuidaria de seus filhos? De sua casa? Será que seu marido se casaria com outra? Será que transaria com outra em sua cama? Aquilo seria muito desastroso. Temendo maiores consequências de seus pensamentos procurou desviar a atenção para a novela, que corria despercebia à sua frente.
Quando foi dormir, depois de transar com o marido, ficou pensando o que poderia ser aquele pressentimento. Seria um aviso? Uma cisma? Ela tinha boa intuição sabia que não era uma sensação infundada, era realmente um pressentimento, o seu sexto sentido estava querendo lhe dizer alguma coisa, mas ela não estava sendo capaz de descobrir, mas Por quê? Por que teria aqueles pressentimentos se não fosse um aviso? Afinal, ela tinha uma vida boa, não lhe faltava nada; tinha marido, filhos, uma casa na praia, tinha até secadora de roupas, o que ela poderia querer mais?
Cansada de tanto pensar e não achar uma resposta, virou-se e foi dormir pensando que no sonho ela poderia achar as respostas para suas dúvidas.
Acordou assustada no meio da noite. Respiração ofegante e aquela angústia sufocante no peito. Parou, procurou recompor-se com uma longa e pausada respiração; de repente pensou: Como não havia percebido! Tudo aquilo tinha uma solução! Ela estava precisando de uma boa mudança, algo novo que ajudasse a quebrar a rotina do dia-a-dia. Suspirou profunda e calmamente, pegou papel e caneta e anotou: “Segunda marcar tintura no cabeleireiro”.
Sergipana de araque
SERGIPANA DE ARAQUE
Cheguei em 78. Num movimento revesso daquele que durante anos tinha levado os nordestinos embora. Buscávamos oportunidades! As mesmas que levaram os “conterrâneos” para o sudeste nas décadas de 40, 50, 60,70...
Tinha 6 anos e fui morar no paraíso: rua de terra, pouco movimento, uma praça em frente de casa e vizinhos, muitos, todos meninos, em casa somos 3 meninas e muitas primas.
Pela primeira vez brinquei na rua: de polícia e ladrão, rouba bandeira, tirei as rodinhas da bicicleta, briguei, peguei bicheira no joelho. Fui criança!
Lembro da cidade antes da ponte da coroa-do-meio, de lá pescar siri, encontrar cavalo-marinho nas piscinas naturais que ali se formavam. Freqüentei a praia dos artistas, os primeiros anos de Aruana, acampei e cortei o pé várias vezes na velha embarcação naufragada na praia do camping, atravessei de pototó para a Atalaia Nova e me banhei no rio Sergipe, na costa só os surfistas.
Fui me tornando nordestina: aprendi a dançar forró, apreciar comida com leite de coco, a cantar meu sotaque, comer farinha e cuscuz e aumentar minha hospitalidade.
Amadureci e deixei lá minhas melhores lembranças: meu primeiro beijo, o primeiro sexo, meus melhores amigos, a militância, os anos de colégio e faculdade, o gosto pela literatura que fale do nordeste: José Lins do Rego, Jorge Amado, Graciliano Ramos. Na música, o Brega.
Fui “a paulista” durante 18 anos e hoje sou há 11, “a sergipana”. Sergipe se tornou a “terrinha” lugar das lembranças e dos meses despreocupados de férias.
São Paulo, 08.12.2006.
Cheguei em 78. Num movimento revesso daquele que durante anos tinha levado os nordestinos embora. Buscávamos oportunidades! As mesmas que levaram os “conterrâneos” para o sudeste nas décadas de 40, 50, 60,70...
Tinha 6 anos e fui morar no paraíso: rua de terra, pouco movimento, uma praça em frente de casa e vizinhos, muitos, todos meninos, em casa somos 3 meninas e muitas primas.
Pela primeira vez brinquei na rua: de polícia e ladrão, rouba bandeira, tirei as rodinhas da bicicleta, briguei, peguei bicheira no joelho. Fui criança!
Lembro da cidade antes da ponte da coroa-do-meio, de lá pescar siri, encontrar cavalo-marinho nas piscinas naturais que ali se formavam. Freqüentei a praia dos artistas, os primeiros anos de Aruana, acampei e cortei o pé várias vezes na velha embarcação naufragada na praia do camping, atravessei de pototó para a Atalaia Nova e me banhei no rio Sergipe, na costa só os surfistas.
Fui me tornando nordestina: aprendi a dançar forró, apreciar comida com leite de coco, a cantar meu sotaque, comer farinha e cuscuz e aumentar minha hospitalidade.
Amadureci e deixei lá minhas melhores lembranças: meu primeiro beijo, o primeiro sexo, meus melhores amigos, a militância, os anos de colégio e faculdade, o gosto pela literatura que fale do nordeste: José Lins do Rego, Jorge Amado, Graciliano Ramos. Na música, o Brega.
Fui “a paulista” durante 18 anos e hoje sou há 11, “a sergipana”. Sergipe se tornou a “terrinha” lugar das lembranças e dos meses despreocupados de férias.
São Paulo, 08.12.2006.
O PEQUENO HENRIQUE E A MORTE
A morte de nosso canário o “ti” revelou-se um marco para as interrogações do “infante” Henrique sobre a morte.
MORRE O PÀSSARO
- Mãe por que o “ti” morreu?
- Há meu filho! Porque ele tava muito velhinho e na vida é assim: quando vamos ficando Velhinhos, bem velhinhos, um dia morremos.
- Mãe eu vou morrer?
- Vai meu filho, todo mundo um dia vai morrer.
- Você, o papai, a vovó vai todo mundo morrer?
- Vai meu filho, um dia quando ficarmos velhinhos vamos todos morrer, ninguém vive para sempre, ninguém vira semente.
A AVÓ (meses depois)
- Mãe, todo mundo morre, não é?
- É meu filho.
- Quando a gente fica bem velhinho a gente morre, né?
- É.
- Mãe a vovó Dona Ercília vai morrer primeiro, né?
- Vai meu filho, sua avó está bem velhinha ela deve morrer primeiro.
- Ta.
INQUIETAÇÕES NUM DIA DE CÉU DE BRIGADEIRO (meses depois)
Tomávamos banho na nossa piscina de plástico num dia tórrido de verão destas épocas de aquecimento global, Henrique admirava o céu de brigadeiro...
- Mãe quando a gente morre vai pro céu, né?
- É.
- Mãe e o que a gente faz no céu?
- Sei lá meu filho! Acho que fazemos coisas iguais às fazemos aqui...
- Mãe quanto tempo à gente fica no céu?
- Há meu filho! Sei lá, Um tempo, depois a gente nasce de novo...
- E depois?
- Depois quando nascemos de novo é diferente! Podemos nascer outra pessoa, fazer coisas diferentes, podemos ser quem quisermos, por exemplo: Você pode nascer mamãe e eu ser seu filho, já pensou? (arrogância de mãe espiritualista)
- E você Henrique quer ser o que quando nascer de novo? (pai)
- Então, eu não posso ser eu mesmo?
(continua)
SP, 15/04/2007.
manhã de frio
sexta-feira, 27 de julho de 2007
maternidade
quinta-feira, 26 de julho de 2007
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