Cotidiano
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque
Todo dia ela faz tudo sempre igual:
Me sacode às seis horas da manhã,
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã.
Todo dia ela diz que é pr'eu me cuidar
E essas coisas que diz toda mulher.
Diz que está me esperando pr'o jantar
E me beija com a boca de café.
Todo dia eu só penso em poder parar;
Meio-dia eu só penso em dizer não,
Depois penso na vida pra levar
E me calo com a boca de feijão.
Seis da tarde, como era de se esperar,
Ela pega e me espera no portão
Diz que está muito louca pra beijar
E me beija com a boca de paixão.
Toda noite ela diz pr'eu não me afastar;
Meia-noite ela jura eterno amor
E me aperta pr'eu quase sufocar
E me morde com a boca de pavor.
Todo dia ela faz tudo sempre igual:
Me sacode às seis horas da manhã,
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã.
Todo dia ela diz que é pr'eu me cuidar
E essas coisas que diz toda mulher.
Diz que está me esperando pr'o jantar
E me beija com a boca de café.
Todo dia eu só penso em poder parar;
Meio-dia eu só penso em dizer não,
Depois penso na vida pra levar
E me calo com a boca de feijão.
Seis da tarde, como era de se esperar,
Ela pega e me espera no portão
Diz que está muito louca pra beijar
E me beija com a boca de paixão.
Toda noite ela diz pr'eu não me afastar;
Meia-noite ela jura eterno amor
E me aperta pr'eu quase sufocar
E me morde com a boca de pavor.
Todo dia ela faz tudo sempre igual:
Me sacode às seis horas da manhã,
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã.
Neste espaço estão fragmentos, pensamentos, reflexões, crônicas que surgem no e sobre o cotidiano da vida.
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Reflexões de um poeta...
domingo, 24 de outubro de 2010
VIDA DE PASSARINHO
Sou bicheira, tds. já sabem, comentei em postagens anteriores. Tenho por hábito observar passarinho, vida de passarinho. Em casa plantei árvores frutíferas para dar pouso e comida a esses bichinhos tinhosos, passarinho é bichinho que está aí, mas que quase ninguém vê. Você já observou os passarinhos ao seu redor? Não, quando começar vai se assustar com a quantidade e a diversidade deles, mesmo em cidade grande como São Paulo. Observar pássaros, esse hábito, adquiri depois do casamento com meu marido que virou passarinheiro. Como estamos na primavera (tempo bom pra ver passarinho pq. é época do início da procriação), resolvi compartilhar com vcs. as alegrias e mistérios destes amigos de penas.
1- Fique atento aos barulhos, passarinho é tudo, menos silencioso!
2- Fique atento as cores, nem todos são pardais, tem uns bem coloridos diferentes. (Se vc. mora no centro de São Paulo vá até o parque do Ibirapuera, lá é possível ver canários da terra e cardeal do nordeste).
3- Chame a atenção dos passarinhos, plantando e conservando as árvores frutífera, e colocando frutas para atraí-los. (Vc. pode colocar frutas em janelas de apartamento e se surpreender com sanhaços, suiriris, sabiás, etc. que vão aparecer. E os pombos que são pragas em São Paulo tb. vão? Difícilmente, eles preferem grãos, arroz, alpistes, pão. Se for atrair beija-flor sempre mantenha os bebedoros limpos, são aves muito sensíveis e o acúmulo de sujeira nos bebedouros pode matar ao invés de alimentar!)
4- Procure vida ao ar livre, praças, parques, reservas. Existem muitas aves nos parques e lougradouros públicos. Em São Paulo em quase todos os parques é possível observá-las.
5- Contemple. A contemplação é a única recomendação importante para observador de pássaro, é preciso olhar ao redor e contemplar a natureza para ver passarinho!!!!!
Bom, agora curta esses próximos meses, pois eles estarão mais barulhentos e agitados com as cortes, acasalamentos e nidificações!!!
PS: Olhem nos sinais (farol, semáforo) de trânsito, muitos pardais estão fazendo ninho nos canos de metais...
Se vc. quer saber mais sobre passarinho acesse: www.wikiaves.com.br
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
PETIT MONDE GOURMET
Esta é mais uma da minha irmã, a bisavó era a mesma...
Inaê Magno*
Almoçava com um velho amigo enquanto o ouvia listar as maravilhas da moderna gastronomia: crème brûlée, petit gateu, camarões chineses, carnes argentinas, cortes especiais, frisantes, espumantes, outros vinhos, cafés. Coisas de encher os olhos, a pança, a alma.
Há certa altura, pensando com meus murchos botões, arrisquei palpite: “Não sou chique! Não gosto de sushi, não bebo café, vinho também não”. Ele, de lá, disse que eu estava errada, que gosto é gosto e pronto. Não existe isso de gosto chique ou não:
- Mas se a pessoa gosta de arroz com feijão, também não precisa comentar, né? Concluiu seu raciocínio.
Hein? Por que, não? Qual o problema de gostar de arroz com feijão? Perguntei deveras convicta de minha inaptidão para o glamour.
- Não tem problema nenhum. Só que arroz com feijão é coisa comum, não é para dizer que gosta.
Comum para nós, porque é da nossa cultura. Um estrangeiro bem pode se deleitar com um feijãozinho com carne e arroz.
- Isso mesmo, é nossa cultura, não tem que falar que gosta.
Naquela hora, eu que muito me esforçava por flanar pelos sabores requintados que o homenzinho à minha frente descrevia, vi-me, de súbito, à mesa de minha bisavó. Meu bisavô à cabeceira, ela à sua esquerda, pouco depois tia Nena. O lustre de madeira trabalhada sobre nós, toalha limpa, pratos de porcelana branca e bordas cor de prata, talheres antigos, copos de vidro. A cestinha de pão e o meio limão ao lado de vovô. E um carinho de brisa fresca soprando das janelas abertas.
Vovó era italiana, de Pescia, Toscana. Jovem camponesa que desceu aos trópicos em busca de vida melhor. Trabalhou de roça, de operária. Partiu aos noventa, viúva de um pequeno industrial húngaro, oito anos mais velho. Mãe de duas filhas. Avó, bisavó.
Vovó era cozinheira. Não, minto. Vovó era COZINHEIRA. Sim. Maiúscula. Na cozinha e em tudo mais. Em sua casa, aquela que a abrigou até a morte e que em vida acolheu a todos, havia muitas dessas coisas de que falava meu amigo: vinhos, cafés, comidas. Mas era diferente. Vinho era domingo, companhia de macarronada com queijo ralado. O aroma onipresente da mesa posta não dava espaço a que se cheirasse o copo antes de bebê-lo. Café se tomava de manhã, depois do almoço e à tarde. Era coado na hora, deixava um rastro de coisa boa no ar. Não era amigo de água com gás e pau de canela. Sua parceria era com bolo de ovos, pão de mel, baralho, conversa fiada. E comida era isso mesmo: comida. Quer dizer: COMIDA. Farta, simples, boa.
Nos bons tempos de minha infância, bem aquecida pelas asas de vovó, nossa família era relativamente extensa. Havia tios e primos de graus variados. Gente nacional, gente estrangeira, gente nova, gente velha. Quando vovó anunciava comida – almoço, jantar, o que fosse – a casa enchia e ninguém lamentava não haver chef na cozinha. O povaréu ia porque era domingo, porque era Natal, porque era noite e chovia. Por causa do espaguete, do bolo de nozes, do caldo de carne com cabelinho de anjo. Ia para ver vovô. Ia para ver vovó. Ia porque ia. E deixou de ir quando eles morreram.
Vovó, italianíssima, não parecia ter vergonha de dizer que gostava de macarrão. E nós, brasileiríssimos comensais de sua obra prima, menos ainda. Também não nos envergonhávamos de gostar de ovo frito, peixe à milanesa, chuchu refogado na manteiga, frango ensopado com mandioquinha e cenoura.
Tenho saudades de minha bisavó. Muitas. Mulher fascinante. Boa e simples como arroz com feijão, bife com batata frita, macarrão com molho. Seu endereço, meu primeiro lar: Rua Dona Antônia de Queiroz, 165. O antigo sobrado ainda está lá. Hoje abriga qualquer coisa da Prefeitura. Está de pé, mas não vivo. Não brilha à luz da prata e dos cristais. Domingos, para ele, são apenas os dias mumificados que se espremem entre sábados e segundas. Não mais o cheiro do tomate fresco, o som das cortinas ao vento. As noites, quando há frio, são noites de frio. Não mais sopa quentinha, torradas, vontade de cobertor. Aos sábados não há ervilhas, carteado, café fresco. A velha casa está lá. Vovó não.
Vejo-me imersa em devaneios. Quem atenderá quando eu chamar o 256-3653? Onde estão os gerânios da sacada? Não vejo vovô ao sofá. Alguém dê quirela aos pobres pardais, pelo amor de Deus! As janelas da frente não podem estar fechadas, hoje é dia de sol! Não é vovó quem desce as escadas, batom vermelho, garbo absoluto. Tia, e sua porcelana? Não se pinta mais nesta casa? Quem cortou o jasmineiro do quintal? O pinheiro há muito que caiu, lembro. E vovô, ao longe, repete seu bordão: “Quanta coisa acontece quando o dia é comprido!”.
Não posso mudar o que passou. Fecho os olhos na infância e os reabro agora, adulta. De volta à mesa de meu amigo. Ele ainda fala de baristas, sommeliers e outros estetas do gosto. Moderna gastronomia, coisa chique. Não lhe quero estragar o entusiasmo, mas esse pessoal já estava por aqui quando vovó fazia polenta com carne moída. Eles agora são mais. As avós, menos.
Não temamos, o sonho não acabou. Quando esse petit monde gourmet invadir a cozinha dos lares e o coq au vin for nosso franguinho de domingo, ainda haverá o céu das avós, imenso e generoso refúgio onde mulheres maiúsculas como Dona Ernesta cozinharão seus quitutes para nós, eternos, saudosos e famintos netinhos.
Brasília, 10 de setembro de 2010.
* socióloga, bisneta da D. Ernesta e irmã da Adriana.
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Coisas simples da vida....
Não sei quanto a vocês , mas eu sinto falta das coisas simples da vida, essas das quais precisamos de pouco ou nenhum dinheiro para tê-las, essas que basta termos disposição em apreciá-las e elas estão aí para serem apreciadas.
Gosto de ver o sol nascer de manhã cedo pelo retrovisor do meu carro indo para o trabalho, apreciar as árvores e a mudança de estação que elas prenunciam, adimirar um céu azul de brigadeiro, ouvir o barulho do mar e andar descalça molhando os pés no mar, gosto de tomar sol (lagartixar) depois de um longo período de frio e céu nublado, gosto do barulho da chuva fraca no telhado para embalar minhas noites de sono, adoro ficar chicletinho com meu filho vendo desenho, saber que meu cachorro vai "me sorrir latindo" quando eu chegar em casa, gosto de ver minhas orquídeas floresceram no final do inverno, gosto da sensação de malevolência depois de um dia de praia...
Gostaria de ter mais tempo para apreciar essas coisas, mas confesso as aprecio toda vez que tenho oportunidade, e você gosta de apreciar o quê?
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
Síndrome do Fazedor de tese
Sempre acompanhei de perto, nesses anos de magistério e formação universitária o sofirmento e as penúrias de muitas pessoas em época "fazimento" dos trabalhos acadêmicos: TCC, dissertações, teses, etc. Eu mesma tendo passado pelas duas primeiras etapas e hoje terminando o doutorado me encontro novamente nesta situação.
As dores e dificuldades do período são tão generalizadas que podiamos criar, sem pensar em comprometimentos maiores com a generalização, um quadro característico das pessoas que passam por este martírio:O quadro da síndrome do fazedor de tese!
1- Sofrem todos irremediavelmente de um transtorno de bipolaridade: Ou 'só pensam naquilo' ou figem que não estão nem aí. A recorrência destes quadros se dá em períodos alternados.
2- São acometidos de surtos de comportamentos histéricos: muito riso, muito choro...
3- Desenvolvem tendência a compulsão: roer unhas, arrancar cabelos,picar papel, falar repetidamente a mesma coisa, etc
4- Sofrem de solidão e abandono familiar: afastamento voluntário do mundo social.
5- Desenvolvem a Síndrome do tempo perdido: todas tem a nítida e real impressão que não vão conseguir terminar dentro dos prazos estipulados!!!!
O engraçado é que a própria academia é a incentivadora deste quadro de síndrome do fazedor de tese. Parece haver no sofrimento um processo de glorificação para o conhecimento, sem sofrimento não há saber. Me pergunto se os sádicos do ofício acadêmico se deliciam com os milhares de aspirantes ao mundo acadêmico, como o capitão Nascimento e seus colegas oficiais do BOPE se deliciavam com as argúrias sofridas pelos aspirantes à tropa de elite?
Enfim, como sou uma sonhadora. Sonho com uma academia melhor, menos reprodutora dos modelos sociais de hierarquização,menos vertical e mais horizontal no processo de construção do saber!!!!
As alegrias de uma professora!!!!!!!
Esta semana que passou, nós professores fomos recheados de felicitações, comemorações, lembranças, etc. Mas nenhuma foi tão significativa, apesar de todas terem me tocado qt. Uma que não foi uma homenagem direta, mas a consequência do convívio sadio entre professor e aluno. Convívio este que penso que deve ser sempre mediado por uma relação de respeito mútuo, amor e troca!
Estava em sala, na aula de Legislação e ética profissional, falando da questão do Dever como elemento norteador das discussões éticas e, numa dessas digressões que fazemos por causa da intervenção de algum aluno, acabei falando de Darwin e da importância de seu pensamento para o desenvolvimento da cultura mundial (ocidental) a partir do século XIX, disse que diferente de Mendel e suas descobertas no campo da genética, Darwin tinha influenciado o mundo para além dos muros da ciência e chegado às artes, as discussões filosóficas, etc. Enquanto corria a discussão uma aluna, muito talentosa e sagaz fez este pequeno versinho sobre a questão:
"Eu vim de 'Ser villha'
de 'ser vilha' eu vim.
Não foi mais Darwin,
Foi Mendel por fim...
O gen da minha ética
a genética de mim...
Gênero de pais (en Enero de paz)
para filhos trago e levo em mim
para mais um ano, uma vida assim...
quem foi que disse então,
que este não
poderia declamar- porque inspira e escreve,
uma poesia,
tão simples assim! "
Com muito carinho,
com toda a Complexidade da Transdiciplinaridade, de uma brincadeira assim : )
Larissa
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