quinta-feira, 31 de maio de 2012

O Gato subiu no telhado....


Hoje acordei com uma triste notícia. O gato de uma conhecida foi envenenado e ela me ligou desesperada, para que eu lhe desse o número do veterinário que cuida dos meus bichos para ver se ela conseguia salvar a vida do Picolino,  o gato em questão.
Essa é mais uma das muitas histórias que donos de bichos nesse país estão acostumados a ouvir. Infelizmente vivemos em uma sociedade desrespeitosa em relação à vida. Hipócrita, para bem dizer! A vida que cuidamos e vigiamos muito é a vida humana, e mesmo assim com ressalvas, se esse humano for um 'cidadão respeitado' vai causar muita indignação o fim de sua vida, se o humano for índio, mendigo ou pertencente a um grupo de minoria o fim de sua vida não causará a mesma comoção. Os animais, esses então... 
A sociedade de consumo transforma qualquer coisa em mercadoria. Se existe a possibilidade de consumo, bingo! Transforma-se em produto. Os 'Pets' atualmente são um atrativo produto de consumo. São inúmeros os apelos de marketing que nos fazem alucinar frente a filhotes, que mais parecem de pelúcia, e que nós queremos ter para abraçar, amar e mimar.
Infelizmente a realidade mostra uma situação oposta em relação aos tão adorados Pets. Muitos acabam nas ruas abandonados, sofrem maus tratos de seus donos que esquecem que um filhote vai virar um bicho adulto e não suportam tê-los em casa sujando e dando despesas quando os mesmos não têm mais a aparência de bicho de pelúcia, e muitos são levados aos veterinários para execuções sumárias.
Na outra ponta da questão temos uma herança cultural de fundo religioso - e não me refiro a uma religião específica, muitas têm características similares - que não dá à mesma importância a vida de animais não humanos que dá a vida de animais humanos. E nessa categoria encontra-se a maioria. Se gatos, cachorros e outros bichos domésticos, silvestres ou selvagens são assassinados por vizinhos sádicos, adolescentes entediados, motoristas desrespeitosos ou esportistas endinheirados (caça é esporte) não nos sentimos tão chocados quanto às notícias de morte humana por catástrofes naturais, por exemplo. Afinal eram animais, não gente!
Boa parte do descaso em relação à vida animal poderia ser revertida se a punição já existente fosse cumprida. Segundo o artigo 32 da Lei Federal nº. 9.605/98. É considerado crime praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, doméstico ou domesticados, nativos ou exóticos, com pena de detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano e multa. Podemos argumentar que a pena é ridícula se comparada ao mesmo crime praticado contra vidas humanas. O pior da situação não é o tamanho da pena, mas o sentido de impunidade que acompanha seu executor. Em um site especializado em direito de animais a seguinte passagem vem antes da lei de maus tratos:

Caso você veja ou saiba de maus-tratos cometidos contra qualquer tipo de animal, não pense duas vezes: vá a delegacia de polícia mais próxima para lavrar boletim de ocorrência ou, se preferir, compareça ao Fórum para orientar-se com o Promotor de Justiça (Promotoria de Justiça do Meio-Ambiente em SP: [11] 3119-9524). A denúncia de maus-tratos é legitimada pelo Art. 32, da Lei Federal nº. 9.605 de 1998 (Lei de Crimes Ambientais). É importante levar com você uma cópia do número da Lei (no caso, a 9.605/98) e do Art. 32 porque, em geral, as autoridades policiais nem tem conhecimento dessa lei. Leve também o Art. 319 do Código Penal, caso  a autoridade se recuse a abrir o Boletim de Ocorrência. Afinal de contas estamos no Brasil, e se os próprios cidadãos deste País sofrem com o descaso de muitas autoridades, imagine os animais! Eis o texto da Lei: (http://fight-club.sites.uol.com.br/)

O que dizer diante disso? Como convencer as autoridades que maus tratos contra animais merecem a mesma atenção que os maus tratos contra bichos? Para convencermos as autoridades policiais precisamos convencer primeiro a população. O convencimento vem da educação. Pequenas atitudes vão fazer muita diferença futura. Inicie você em sua casa a transformação. Não compre animais silvestres como bicho de estimação (papagaios, tatus, periquitos, etc). Não tenha pássaros preso em gaiolas. Não pratique a caça animal. Não compre um animal de estimação a seu filho porque o mesmo lhe enlouqueceu nas datas festivas e se o fizer deixe claro para o pequeno ‘monstrinho’ que bicho não é brinquedo e que deve ser tratado com carinho, respeito e os devidos cuidados. Pare para animais que estiverem atravessando a rua. Não assista a espetáculos que utilizem bichos como forma de diversão humana. E nunca, jamais em hipótese alguma mate o bicho de estimação de seu vizinho.
Acredito que essas pequenas atitudes vão fazer uma grande diferença!

5 comentários:

  1. Dri, eu acho que o buraco do desrespeito em nossa sociedade está muitíssimo mais abaixo do que a questão do mau trato aos animais. Brasília está hoje repleta de moradores de rua. Isso é coisa nova por aqui. Há quinze anos, quando eu cheguei, os moradores de rua eram temporários. Vinham no final de ano - época em que as famílias costumam esvaziar guarda-roupas e geladeiras para viajar, porque o último a ficar apaga a luz - e iam embora para os sertões desse brasilzão ao final de janeiro. Agora é diferente. Eles vêm e ficam. São jovens isolados, famílias inteiras, idosos, viciados em crack, alcoólatras. Demorou, mas Brasília virou Brasil, ao menos nessa que é uma das piores mazelas deste país, o abandono urbano dos miseráveis, o lumpensinato. E é aí que eu quero chegar. Enquanto a classe média deslumbrada gasta horrores no embonecamento dos bichinhos domésticos, ofendendo, inclusive, sua própria animalidade, por assim dizer, o ser humano da rua - o pobre, o sujo, o descartado - é abandonado à pior das sortes. Em São Paulo isso é tão antigo que já se naturalizou, é pedra e asfalto da cidade. Por aqui, repito, é novidade. Novidade que mostra o coração de pedra que o brasileiro que come - esse ser perdido no limbo entre a riqueza e a miséria - guarda no peito. Não há piedade, compaixão, amor ao próximo, nada do que apregoam os discursos religiosos, ao menos os cristãos que dominam a nossa laica nação, o que dirá então de respeito? Respeito é conceito republicano, burocrático, não passa pelas cabeças pseudo-beatas da nossa classe média. E eu não falo aqui do ar blasé, entediado e superior com que as classes médias de todo o mundo tratam seus desiguais (se inferiores, claro). É ainda menos que isso. Porque o sentido de cidadania, ainda que não agrade, é já sangue que corre nas veias da Norte América e da Europa rica. Mas no nosso sangue escravocrata não corre não. E pobre tem mais é que morrer! E se o pobre for bicho, então, nem precisa dizer. Mas se o bicho não for pobre, for só bicho, mas encher o saco, eu que desconheço o Estado, a Lei e qualquer juízo republicano, mando pro saco, porque EU valho mais que um gato tarado, que uma cadela no cio! Eu acho que é bem por aí, mas ainda mais e mais fundo o nosso buraco. Sinto pelo gatinho da sua amiga. Lembro quando aquele animal lá de Aracaju matou a Fefê! A propósito, escrevi uma crônica esta semana que acho que complementa um pouco o seu raciocínio, apesar da metáfora.
    Inaê

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  2. Infelizmente, eh a mais pura verdade... vida tem uma dimensa relativa apesar de muito se defender ela como um valor intrinseco... A naturalisação da desgraça desumaniza. O Darcy Ribeiro fala disso sobre o processo de escravidão. Ele diz que é um processo de desumanização de ambas as partes envolvidas, do opressor e do oprimido. O pior dessa história é que o picolino morreu... o gato era do casa da regina e o pedrinho ta chorando sem parar inconformado. Triste momento pra uma criança ter que encarar a dura realidade da vida.

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  3. errata no início do último prgf. leia-se:Como convencer as autoridades que maus tratos contra animais merecem a mesma atenção que os maus tratos contra seres humanos?

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  4. Adrianinha, nem preciso dizer que concordo com absolutamente tudo o que escreveu! Vivo essa realidade de acompanhar maus tratos, envenenamentos, abandonos, tanto como veterinaria como por "mãe" de várias "crianças". É muito triste perceber que o dito ser racional esquece que nada mais é que um animal como todos os outros, com diferenças que em nada permitem se sentir melhor ou pior que os outros! Precisamos aprender a respeitar e amar a vida, seja ela qual for. Assim, bicho gente, pobre ou rico, bicho cachorro, bicho gato, bicho sagüi, bichos enfim, poderão realmente se dizer bichos de Deus!
    Luci Monteiro

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  5. Dri, concordo com a Inaê, o buraco é mais embaixo... Com relação aos animais,acho que sua aquisição não deveria ser um comércio, como mercadorias, sou contra a compra de animais, qualquer um. Acho que quem quer ter um amigo animal deveria adotá-lo!

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