domingo, 13 de maio de 2012

Compulsão: o prazer da vida moderna.


Domingo das mães, um dia chuvoso e modorrento. Enquanto tomo café, folheio as páginas da revista do jornal que assino. Uma das manchetes fala do crescente e recente hábito dos paulistanos em usar em demasia o celular. A notícia chama atenção para o fato de que o hábito está virando uma compulsão. O Hospital das clínicas está para abrir uma ala direcionada aos viciados no uso do aparelho.
            Informação que não poderia passar batida em casa de dois cientistas sociais. Como venho de uma família de sociólogos (pai, mãe, irmã) estou acostumada que a mesa e as horas das refeições são o local e o momento propício para discussões e análises sociológicas.
            Olho pro marido, alvo da provocação a ser inferida, e despejo:
            - O homem é um ser compulsivo. Não sei se por predisposição genética ou social, somos compulsivos. É obvio que o problema da compulsão está na resposta social ao fato do que o fato em si. Existem tipos e graus de compulsão, alguns aceitáveis outros abomináveis. Veja a reportagem!
            O debate seguiu entre avaliações sobre o estilo de vida, a relação entre o coletivo e o individual e pensadores que se preocupam em desvendar os motivos dos fenômenos sociais.
            Diz o marido:
            - Para Durkheim a sociedade era a melhor parte do ser humano.
            Arremato:
            - E o individualismo moderno afasta cada vez mais o homem do coletivo.
            Passado o momento sociológico retomo a leitura do jornal. Deparo-me com uma crítica sobre a atual novela ‘das oito’ e as desventuras pelas quais está passando e irá passar um dos personagens. O tal personagem vai, a partir da leitura, iniciar uma reviravolta na trama. O inusitado é que ele é um jogador de futebol e que ler não é um hábito presente em sua vida - como não é um hábito presente em boa parte da vida dos brasileiros. A inversão proposta pelo autor está no fato de ser a empregada da casa a iniciar o patrão, no caso o jogador de futebol, no mundo da leitura - ela tem um propósito de vingança contra a esposa do personagem. Seu ato não é abnegado - o chavão está em reafirmar um fato de domínio público: o conhecimento é uma ferramenta de transformação.
            Reflexão rasa surgida da leitura matinal de Domingo: Boa compulsão esta por leitura. Nossa! Será algum tipo de compulsão boa? Tornar-se refém da repetição. Compelir, viciar-se em algo, como pode ser isto bom?
Como inicie a crônica proferindo que o problema da compulsão não é ela em si, mas, a resposta social sobre o fenômeno. Insisto: Boa compulsão esta por leitura! Pena que atinja uma parte tão pequena da população!

3 comentários:

  1. Maravilhoso, Adriana! Estes dias assistindo ao programa Sem Censura da Leda Nagle, a jornalista especializada em etiqueta falou do horror que é observar que em um restaurante, local onde as pessoas estão (ou deveriam estar) para se curtir umas às outras a primeira coisa que fazemos é colocar o celular em cima da mesa ... Que coisa né? Em que ponto chegamos. A sua "E o individualismo moderno afasta cada vez mais o homem do coletivo" me faz pensar se realmente não estamos fadados ao extermínio de nós mesmos já que o homem, ser coletivo por natureza, está cada vez só!

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  2. Dri, que legal, apesar de todas as suas tarefas, uma tese, e tal, vc nos dá o prazer de sua reflexão nada rasa! Como podemos reverter essa constatação?

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  3. O tal vício da leitura... recentemente eu li um livrinho maravilhoso que discute o que é ou não literatura, e nele a autora diz que o hábito hoje tão valorizado da leitura já foi tido como nefasto, não apenas por mexer com os cérebros dormentes, moldar os caráteres (principalmente das mulheres, que tendiam mais ao adultério depois de terem acesso à literatura, às novelas e romances), mas também por questões de saúde física. A leitura chegou a ser recomendada com grande parcimônia, para que fosse feita por não mais que tantas horas por dia, que se revezasse a leitura com passeios ao ar livre, alongamentos etc., e, se possível, que se evitasse ler, porque muitas mazelas físicas estavam ligadas a esse vício terrível (vai ver as suas dores são culpa do vício, hehehehe....).

    Inaê

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