quinta-feira, 12 de maio de 2016

O Dia Seguinte


Foi uma morte anunciada, mas todos tinham a esperança de salvar aquela vida, afinal ela mesma não mostrava sinais de esmorecimento, lutava por permanecer viva. E o tempo foi passando e a morte se anunciando cada vez mais próxima e certa, muitos vibravam pois tinham a certeza de que acabando com aquela vida estariam livres de todos que ela representava direta e indiretamente, se livrariam do que estavam tendo que aguentar perto deles, se livrariam da ameaça de perderem seus privilégios seculares, por isso formaram um bloco coeso e munidos de seus poderosos megafones e cartazes televisivos inundaram o lugar com campanhas difamatórias e falsas verdades, corroboradas por seus aliados e companheiros de classe, que através de seus prepostos em diferentes cargos de prestígio, aparentavam certa competência e imparcialidade. Que circo bem montado! Que espetáculo midiático!
Onde estávamos este tempo todo? Dormíamos? Por que não percebemos esta morte anunciada? Se foi percebida por que nada foi feito? Se foi feito por que a vida foi sacrificada?
E assim, o tempo foi passando, de um lado os que defendiam a vida ameaçada, não acreditavam que o final fosse o que foi, tinham talvez esperanças que prevaleceria o bom senso? Mas o que é o bom senso? Esse sem dúvidas depende do olhar e do interesse de cada um, assim chegamos a conclusão de que existem inúmeras formas de bom senso, ele se ajusta aos interesses dos diferentes grupos em luta. E, de certo, para um dos lados venceu o bom senso e a vida foi considerada praticamente morta, faltando pequenos detalhes para o legista confirmar a mesma: Causa. Data. Hora e Local.
Haverá festas, fogos e provocações dos que abutremente tramaram essa morte e têm certeza frente ao que consideram um cadáver exposto, que venceram, mas que vitória é essa? O que comemorar? A covardia? A traição? O golpe fatal? A deslealdade? A mentira? Pergunto novamente: O que comemorar? Qual o perfil dos que se julgam vencedores? Podem confiar um nos outros? São fieis a que e a quem? Em ninho de cobras, qual a mais perigosa? Como o louva-a-deus depois de consumado o casamento vão acabar se devorando.  Não adianta, é da natureza dessas criaturas, assim elas se reproduzem, devorando umas às outras.
Será que os que defendem a vida estavam certos de que um passado que acreditava-se enterrado não voltaria? Voltou de uma forma reelaborada, mas voltou. Será? Por quanto tempo? Afinal nós estamos vivos e ativos e nós somos a força que pode sempre trazer a vida e nós não morremos, ao contrário, estamos vivos e dentro de nós a chama da vida parece que se fortaleceu, acendeu com mais força, talvez tenhamos deixado essa chama esmorecer e por isso não vimos esta morte anunciada, ou não acreditamos no que se tramava. Esquecemos que essa chama tem que ser reavivada sempre, que é preciso estar alerta para que a chama não se apague, pois sempre haverá quem não a queira ativa.
Nada é para sempre diz o adágio popular, e não se mata um símbolo, um mito. E aqueles que comemoram diante do que julgam ser um cadáver, não atentaram que reavivaram a chama, acabaram de dar vida ao mito e esqueceram que este é eterno, ele viverá para sempre com uma força muito maior, como algo que deve ser preservado e alcançado, se preciso, até morrer pelo o que ele representa. Assim se fizeram e se fazem as grandes mudanças. O mito não necessariamente se fixa na figura de uma pessoa, embora possa assim também se materializar, ele é imaterial, por isso sobrevive aos tempos, as pessoas, a tudo. O mito representa um ideal, uma utopia e estas não morrem nunca, não é possível mata-las, como a Fênix ela renasce cada vez mais forte das cinzas, trazendo sempre a lição aprendida.
Por isso, continuamos lutando em nome desse ideal e embora abalados com o cenário a nossa frente, sabemos que juntos somos fortes, sabemos que não houve derrota nem vitória, apenas um intervalo para que possamos aprender as lições e como a Fênix renascer mais forte e trazer novamente à cena a vida.

Estamos com você Presidenta!

Tania Elias M. Silva 
(Sobre a autora: além de ser minha mãe, é socióloga e prfª Drª aposentada da UFS)

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