A minha vida intelectual é inseparável
da minha vida
Não sou daqueles que têm uma carreira, mas do que têm uma
vida
(Edgar Morin)
Essas frases
proferidas por Edgar Morin impregnaram minha consciência desde cedo. Aos 23
para 24 anos quando comecei a fazer meu mestrado, foram elas que me guiaram, e
ainda guiam meu caminhar. Sempre achei muito complicado tecer o percurso entre
o desenvolvimento de uma carreira e a vida pessoal. Tive um jovem professor na
universidade que me disse, com sabedoria, que depois dele fazer uma maratona
entre graduação, mestrado e um concurso para o magistério público superior, ele
estava, naquele momento, dando uma pausa, segundo ele: estava vivendo a vida e
que essas pausas eram necessárias, até para o amadurecimento intelectual.
Pois é, quem
opta por profissões ligadas a vida acadêmica entende bem o quanto essa opção
pode consumir muito da vida pessoal. Gostei tanto do conselho, ainda mais
porque depois desta sugestão eu já me encontrava longe de casa, morando em
outro estado e cursando meu mestrado, que o segui à risca. Após o término da
minha pós-graduação foram longos 10 anos até meu retorno para finalização da
jornada com meu doutoramento. Nesse meio tempo veio o casamento, o filho,
emprego, depressão pós-parto, muitas reformas de minha casa... não
necessariamente nessa ordem.
Esse preâmbulo
sobre minha vida é um parêntese para explicar o motivo pelo qual as palavras de
Morin calaram fundo em meu peito. Viver é necessário, e no emaranhado do que é
viver, minha vida intelectual e pessoal estão sempre construindo uma única
trama.
Em épocas de
socialização virtual essa questão torna-se ainda mais latente. Nas mídias
sociais a vida e a profissão tomam, pelo menos nas aparências, caminhos
distintos. Isso é coisa que me intriga. Vivemos um tempo que se posicionar é
necessário, mas as pessoas preferem a tal da aparência, da neutralidade. Mas
sejamos honestos, neutralidade não existe. A vida é política, ela nos obriga a
tomar posicionamentos e eles nos guiam o tempo todo quer seja na vida pessoal
ou profissional.
Quando fui professora de ética (fui por mais de 10 anos) sempre
instigava meus alunos a pensar sobre as implicações morais e éticas presente na
relação entre a vida pública e a privada: será que o mau chefe, o
sem caráter, é uma pessoa correta em casa, na sua vida privada? Será que o
moralista é realmente moralista entre 4 paredes? Sempre me divirto quando a mídia expõe alguma
celebridade que deixa claro que entre o discurso e a prática sua vida é um
espaço esquizofrênico.
Então levanto a
bandeira: por menos esquizofrenia no mundo! Sejamos nós mesmos, sempre.
Confesso que seremos poucos nesse caminhar, o mundo das aparências tem vencido
por séculos a batalha entre a relação da vida pública com a privada. Tem
teses sobre isso, muitas. Esqueçamos as teses, estatísticas e vamos focar na
felicidade e na verdade, pergunte a si mesmo como ser feliz reconciliando vida pública
com vida privada?
Na realidade,
não existe fórmula para resolver esse dilema, elas nunca existem. Apenas parta
do princípio de quem você é e o que te faz feliz. No meu caso é não fracionar
as minhas redes sociais entre profissional e pessoal, é entender que mesmo
tentando construir uma carreira acadêmica e intelectual, ela terá que se
encaixar na minha vida e sofrerá ausências, impermanências e reticencias.
Para encerrar
esse desabafo, quase uma escrita terapêutica (risos), quero lembrar a voz de um
outro pensador de quem eu gosto muito: Darcy Ribeiro. Dizia o mestre, mais ou
menos assim, como tenho guardado na memória: Não procure nas minhas obras análises
isentas, sou um homem de fé e de partido.