Resistimos porque resistir é o
que faz a América desde a invasão dos europeus.
Resistimos no sangue indígena
derramado, no lombo do negro açoitado, na pobreza, na fome, na seca, na
humilhação. Resistimos ao longo de séculos de escravidão e exploração a que foi
submetida a América Latina.
Resistimos para sobreviver,
resistimos para existir. Resistimos nas lacunas, nas brechas, na malandragem,
na capoeiragem, na subversão e até na contravenção.
Resistimos porque ao sul do Equador
não havia pecado, então resistimos na mestiçagem, no entrelaçar de corpos e
almas. Resistimos na ninguendade de um povo novo rejeitado e desprezado por
suas matrizes fundadoras.
Na luta pela resistência/sobrevivência fomos dançando Toré, brincando Jongo, ouvindo batuques,
sambando, cantando. A alegria e não o choro nos definiu. Aprendemos a rir da
desgraça, rimos de nós mesmos, de nossos infortúnios. O sorriso, às vezes, é
mais ácido que a lágrima.
Resistimos na literatura, na música,
nas artes. Resistimos no Maculelê da senzala, nas vozes tribais entoadas dos
Andes às praias tupiniquins, da Amazônia a Patagônia. Resistimos na melodia de
Mercedes Sosa, nos versos de Violeta Parra, nas palavras de Garcia Marques, na
poesia de Castro Alves, de Caetano, em Chico. Resistimos no Cordel, no Repente,
na Embolada. Resistimos na academia, essa que hoje querem calar.
Resistimos limpando com nossas
próprias mãos o petróleo jorrado nas praias nordestinas, apagando o fogo das
queimadas do agronegócio, resistimos frente a omissão e permissividade das
autoridades. Resistimos mesmo torturados nas senzalas e porões da ditadura. Somos
corpos resistentes.
Mas não se enganem, quando o ouro
negro que agora contamina nossas mãos chegar aos corações verás, como canta o
hino, “que um filho teu não foges à luta” porque quem ama não teme a própria
morte.
E seguiremos resistindo como
resistiu Palmares, Canudos, nas mãos que seguraram a chibata, nos 18 do Forte
que eram fortes, resistiremos como no sonho dos inconfidentes. Somos almas
resistentes.
Resistimos nos irmãos
equatorianos, chilenos, argentinos, venezuelanos, uruguaios, paraguaios, no
índio Morales, em Che, no soldado Marighella, no operário Lula, nas
presidentas, donas de casa, trabalhadores, camponeses, ribeirinhos, quilombolas,
nas etnias indígenas, nas vidas LGBTs. Resistimos nas favelas, nas periferias.
Resistimos apesar da desigualdade que oprime e separa nosso povo.
Como sul americanos, brasileiros,
mestiços aprendemos a resistir para existir!